domingo, 29 de novembro de 2009



ninguém ouviu o estrondo surdo da hora em que o bonde do desejo, desgovernado há mais tempo do que se imagina possível, se arrebentou contra o muro frio da indiferença
ainda não se sabe se o choque foi racional ou irracionalmente intencional, o que se sabe é que nada surtiu
cena final(?)
em meio à choros contidos, gozos reprimidos, sonhos desiludidos, esperança desestimulada, e-mails não enviados, telefonemas não dados, surpresas esperadas, surpresas que não aconteceram, abraços solitários, desejos ainda desejados, suspiros, anseios, tempo dispensado (perdido?), eco solitário, triste, necessitado, despossuído, dilacerado, (apaixonado) sem beijo ou abraço, sem calor, calado
ali, quase jazia o dono do bonde, agora já não mais dono de nada
nem se mexeu, como se fatídico fosse o momeno, sem força alguma se deixou arrastar pela força (não velocidade) daquele momento
desesperava-se por sentir alguma coisa, aquela era sua derradeira ilusão
nada aconteceu, nem miragem
mais uma tragédia desumana
mais destroços por que passar por cima (assobiando?)
mais é menos, já diziam, nesse caso: menos é menos

Sou carbono
Sou alma
Sou sangue
Sou saga
Sou uma
Sou cada
Sou minha
Amada
Cachoeira pesada
Trilha arada
Ferida aberta
Cortina fechada
Perdida encontrada
Esquina marcada
Heresia forjada
Equilibrista cega
Nem cruz nem espada
Comigo sou obra
Contigo sou rara


sentado na beira do muro, olhando a tropa passar, bateu continência em deboche aos que marchavam por convicção
queria criar vergonha, queria sentir-se o maioral, mas só conseguiu repetir lorotas que disseram ter ouvido no telejornal
ninguém deu atenção, nem ele
continuou a vociferar asneiras pós asneiras, cada vez mais frustrado por não se encontrar, não ser o centro daquele circo, ainda que paramentado para tal
quanto mais tentava parecer indignado, mais se mostrava ignorante, patético, querendo mudar o mundo sentado num beiral
esbravejou milhares de palavras ocas, nem uma mosca se comoveu
o bando passava e bandoleiro mais e mais se alvoroçava
ria nervoso, esticava o pescoço, tentava outra continência alegórica, última chance no pedestal...tarde demais
ano após ano era o que acontecia, por opção, estanque no mesmo posto observatório
zé povinho jamais conseguiu saber quando foi que se tornou invisível, tão pouco tentava recordar, sua meta era única: competir com o que não queria alcançar

pra que lado corre quem desistiu de andar?
deixem a pose lá fora
tirem os sapatos coloridos do pés torturados por tantos calos em navalha
desabafem os dedos já mofados por tantas pretensas meias vontades
corram descalços, nús, pelados, puros, naturais, inteiros, completos, perfeitos, vivos
sejamos iguais, sonhemos em frente, percamos as estribeiras, ponhamos fogo nas floreiras plásticas, respeitemos as vontades originais, trinquemos os reflexos, valorizemos o real, interno, intenso, intrínseco, inato, ingênito
olhemos no olho da menina íris, sem piscar, sem apontar, sem cutucar, sem soprar, sem desviar, sem chorar
sem
com vontade, com coragem, com senso, com interesse, com liberdade , com sensatez
com
sem
soh
só assim seremos libertos dos nossos juizes ex...in...(nada)ternos, só assim aqueles dias de chuva terão gosto de arco-iris... aquela poça de sangue espelhará o amor que me esvaiu para te ajudar, aquele beijo será um beijo, o riso terá gargalhada, a garganta já não mais estará trancada, o som será límpido de mim e de ti, para mim e para ti

pais sobrevivem aos filhos

filhos sobrevivem aos pais

pais sobrevivem filhos que sobrevivem pais

círculo vital

circo sem final

feliz circunferência

circuito perfeito

feito pra mim por ti

sem saída

sempre presente

presente eterno

materno

paterno

perfeito

feito por mim pra ti

completa doação

completa realização

completa recepção

etérea concepção

além da imaginação

graça




auto-retrato
espelho
reflexo de mim, de ti
culpa minha, tua
vergonha
nossa
orgulho enchendo o copo, o bolso, a boca, a conta, deles
auto-retratado
auto-retardado
comecemos pelo começo, por onde tudo começou
caracterizemos para melhor fotografar
olhe o passarinho
olho no passarinho
olhe, é o passarinhos nos olhos, na retina do varonil
bicudo, colorido, pomposo, cheio de graça, rindo da desgraça do outro enquanto (tem ciscos incomodando, irritando, arranhando...) corre para encontrar o tapa-olho perfeito para que não enxerguemos a verdadeira cor do seu desejo...
(sacumé, os olhos são a janela da alma)
lágrima se liberta e consegue fugir, desce desgovernada até o extremo sul da indignação
Encontra uma boca louca aberta, faminta, engolindo tudo que vê pela frente, já não importa quem ou o que seja, vai devorando seus membros, triturando sonhos, ornamentada por um sol negro pretensioso que acha que pode nos mostrar o fim do túnel, quando na verdade indica o funil... vejam... algo vem aí... prestem atenção... péraí... nojento!
acabou de regurgitar detritos, detentos, corruptos, amigos de outrora, inimigos por conveniência
podre! engoliu, passou a mão, disfarçou, rapidinho, antes que o cheiro tomasse conta e nos sufocasse
Tarde de mais: EU VI! Fujam, corram, aqui não tem lugar pra vocês! Não tem como fugir dos dentes afiados da gente que insiste em dissecar
(dizem) eles não sabem esquecer! É VERDADE, graças à "quem acreditas"
Não são tolos, correram ladeira acima, mas não muito... bem aí... bem no meio, mediano, intermediário, medíocre,
mascarado de queridinhos, mocinhos, garotinhos, bochechas rosadinha, disfarçadas, rosinhas estilizadas que não ornamentam, só fedem
mais podres que a sobra de todos os dias, fedem!
fedem a sanguessugas gordos de engolir o sangue nobre e pobre de nós desgraçado
são ratos, não são homens, somos patos, não cidadãos
à margem de tudo isso, democraticamente divididos entre esquerda e direita estamos nós, disfarçados de orelhas de burro, surdos aos nossos próprios apelos, afinal o que queremos?
quem se salva?

QUEM SE SALVA?
QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEM SE SAAAAAAAAAAAAAAAAL-VAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
quem precisa de salvação? EU QUE NÃO!
quem precisa de elucidação? QUEM NÃO?
ouçam o berro abafado pela garganta mega-star do nosso poderoso atual
ouçam-se
vejam-se
decidam-se, tirem essa cara de "não tem mais jeito", tirem a maquiagem que anula a nossa alma
não se anulem, não me anule, não anulem
usem tratamento de choque, o único que não dói, que não custa, que não destrói
usem-se: falem, constestem, xinguem, risquem, rabisquem, briguem, pensem, resistam, errem, mas ajam!
não existe defesa para isso, nossa imunidade está garantida
salve-se quem puder
transformem-se
para que no álbum de família possamos nos orgulhar de termos melhorado com o tempo



não me confundas
com o que pensas sobre mim
com o conteúdo a preencher o vazio que te domina
não peças minha língua quando fores lamber tuas feridas
sequer penses em mim ao correr a lágrima alegórica do teu rosto preparado por teres ouvido falar da tragédia que ocorreu tão longe de ti, quando aos teus pés muitos gemem por bem menos
não me subestimes
não penses que não ouvi todas as vezes que esganiçavas
tudo da boca pra fora
não esperes que eu sopre teus arranhões, depois de tantas vezes teres te encantado pelo mesmo tipo de porco espinho
please, já vi ratos de laboratório mais espertos que isso
não sabes o quanto de tuas espelhafatosas e previsíveis crises já eliminei de minha memórias
por proteção me sinto compelida a baixar minhas pálpebras para a tua tragédia de hoje
estranho... ouço teu riso por trás da suposta tristeza que encenas aos que nunca te lerão as entranhas
não menospreze minha capacidade de abstração
não deduzas que não te tenho algum afeto
pelo contrário: por ti nutro inúmero sentimentos, alguns deles nunca terás conhecimento
doutros é bom que nem tenhas acesso... pode não fazer bem a quem falta discernimento
eu bem que adverti

não me confundas com a fada madrinha, não caibo nos teus parâmetros infantis
não me queiras para amiga da onça
não consigo desativar o sentido da realidade
não me peças conselhos: eu os darei
não reclames
eu bem que avisei
hipocrisia não é meu forte

...
para quando chegar o dia em que a ti me entregarei
...
primeiro suspiro
vejo a vida ainda embaçada
mas todos já sabem: um dia deverei ceder aos teus desencantos
fatal
fatal e inevitável
a medida que evoluo mais me aproximo desse presságio
não importa pra que lado eu dê meu passo
curva ou reta, é pra ti que caminho
se me importo?
bom...
sim!(?)
não!(?)
depende...
do quanto terei podido gozar antes dessa sina
do quanto saberei ter aproveitado antes e até o "nosso" dia chegar
cedo ou tarde só tem importância pra quem dorme enquanto poderia ter corrido a São Silvestre
eu faço o que posso, e tudo posso à medida que mais faço acontecer
me realizo com o nada pouco com que até hoje me muni
o bom é (o) que não pesa
nesse quesito tive grande(s) ajuda(s), e por isso sou grata, cada dia mais!
cada dia mais me sinto (ainda não)(mais) pronta
para quando chegar o dia em que a ti me entregarei

só peço que quando te convir tomar-me em teus inflexíveis e desaventurados braços
seja gentil
com quem fica
pois à mim pouco importa: já terei passado "dessa pra melhor"



sábado, 28 de novembro de 2009



chegou de mansinho
suave
quase imperceptível
se alojou perfeitamente
como se tivesse ali nascido
deslizou
garganta a dentro
eu pensando que aquele comprimidinho traria resultado
tsc tsc, não pra isso
e agora?
e agora que não controlo mais essa força estranha
que faço com essa presença
grave e constante
que quase me priva do ar
que me arranha a garganta
que se dissimula líquida e sacana por onde eu não posso tocar
me resta a (com)pressão
intensa e interna
me rendo
indefesa
já não me controlo mais
me ponho ao seu dispor
breve
vem chegando o broncodilatador




gosto quando me freqüentas

ó gosto fúnebre de tua ausência

me tira da pasma e confortável tranqüilidade

me (en)leva

a cena muda

já somos outros mesmos que hão de perder-se

e encontrar-se novamente

à primeira vista após o último suspiro

como gosto quando me frequëntas

ó gosto vital de tua presença

que me põe estrelas no céu da boca

terremotos quase imperceptíveis e quase indisfarsáveis que correm espinha acima e explodem como vulcão refrescante na nuca... liberando estrelas

aquelas do céu da boca... são fogos do artifício



plácido
límpido
estático
incólume
desejando intensamente o estalar que revelaria ao mundo a sua essência tão bem dissimulada por aquela arma(não tão)dura
pronto
ouço
e nunca mais serei igual
não há volta
nem a desejo
minha ânsia é só uma, a de não permanecer translúcida
mexe comigo! me faz leve me faz nuvem
eu quase não posso em mim, e antes de explodir me divido em milhões de partículas unas e assim permaneço firme e fágil, dependente da tua interferência
um pequeno sussurro
um rubor surge próximo
é o saldo de mim que ainda guardas com cuidado, entre dedos delicados, que induzes gentil e maliciosamente para o calor da teu desejo
para sorveres tão logo esteja tenra e tesa pronta para ser teu alimento
gemo
o ritual está completo
não há volta


enquanto finjo, equilibro minhas patas no fio da tua navalha
enquanto finges, me arrastas nua pelo beiral da tua felicidade
enquanto isso, acredito acreditar que cada gota amarga que sorvo é suor
e não lágrima, é esforço e não o reforço dessa minha fantasia de ser
tão forte quanto (se) imaginava

quando eu crescer quero poder continuar dizendo: quando eu crescer...



    ela tonta, ausente de orgulho, ele gotejando desprezo disfarçado de querer
    um risinho fraco um alô abafado um retorno descarado
    ela insistia ele se eximia
    na falta de éco ela se contradizia e implorava mais um pouco daquela falta de poesia
    e ele como se ainda se importasse dava continuidade àquele desastre emocional
    ela: mas você me deixou de lado, me excluiu. Eu sentei no chão e chorei... (quase chorando)...estou triste... (se segurando pra não desabar)... assim não vai dar mais (a lágrima já escorre pela garganta), não agüento mais (consigo imaginá-la prostrada), ouviu?

    ele: (vácuo) ela: (engole a lágrima à seco)
    ele: olha só... hum... diz pra ele esperar... não, não é nada, já estou desligando...
    ela: ãm.. oquê? ah... tá... tudo bem, depois a gente fala?? então... beijo meu amor.
    clapt! desligou como um tapa na (própria) cara!

    cada um tem o que merece ou o que aceita

    ando tão desinspirada
    sem graça, sem nada
    asa selada
    vista blindada
    boca amassada
    riso mofado
    aceno pesado
    passo arrastado
    ando tão e tanto que me perco no quanto
    enquanto o dia não chega
    eu ando tão e tanto que já nem me importo
    um dia me sento e espero para ver-me passar

    não existe
    quem não tem mãe não existe

    simples assim.



    calamidade pública: perdi meus olhos de aumento.
    agora, tudo ficou tão... tão...
    já não vejo mais o que pouco importa,
    passei por mim sem perceber(?)
    dei bom dia, nada ecoou ou refletiu,
    é! a pupila permanece minguante em mim.
    quem sabe eu esteja em processo de mutação,

    ou seria um eclipse... mas de que grandeza?



    limão limonada caipirinha cachaça
    livre arbítrio
    quem precisa de mais?
    então, o que vai ser?
    açúcar ou adoçante?!



    Para fugir dele mergulhei no seu ego, desenvolvi melhores maneiras de desenvencilhar-me, novas técnicas de disfarce; me faço de dona, me desfaço em um passe de mágica, surjo nova, rio pro espelho, faço um brigadeiro, fujo do recreio e me deparo... é ele... me alcançou. E agora? o que faço? Acordo! e para fugir... bom, vocês já sabem... pra dominar o ócio, só o ofício.


    O que nos destrói é a importância que damos àquilo ou àqueles que nos rodeiam. O sentir afeta irremediavelmente nosso julgamento, próprio ou de outrem. Oxalá eu fosse de pedra, água, ferro, madeira, vidro, fogo, ar, qualquer coisa sem alma, sem raciocínio, sem dor, sem amor, sem calor, sem razão, sem coração. Tão melhor me sentiria agora. Mas estou aqui presa nessa armadilha que criei sem saída. Brilhante! cruelmente fascinante é o delírio real e (ex)pulsatório. Vi! Vendo! e... ah... prendendo a língua no céu da boca do inferno.

    Existem muitas fases pra vida! nem sei se as quero pra minha, mesmo sabendo que a todas carrego em um único minuto... e nessa viagem me entrego... fruto das minhas ilusões, donde tiro meu remédio, doce fel em que me lambuzo, perigosa e homeopa(té)ticamente tentando ser envenenada pela luz que me cega a retina.