terça-feira, 9 de junho de 2020

Amável, atravessou a couraça que lhe protegia. 

No peito aturdido por incólume posseira, tinha uma dor sólida - que como Medusa às avessas, desintegrou ao ser notada.

À miragem, que outrora vestia, reservou seu passado deserto. 

E, sem pressa, ergueu o queixo e abriu os olhos. 
Foi quando avistou céu estrelado, de lua límpida e guardiã. 

Seu peito agora era Oásis que abrigava sol, brisa e amar. 


segunda-feira, 8 de junho de 2020



Um sussurro prolongado e agudo tirava a concentração daquele coração desassossegado que intentava não sofregar
Buscava a ausência da dor, mas se via preso em ausência e ardor
E nesta órbita elíptica ruminava hipóteses
excentricidade babilônica que oscilava pendular
em si?
fora de si?
tudo era nada, perto da força do caos adentro
que insuportavelmente sussurrava atônito:
vem
não
vai
não
sei...
[lá]

terça-feira, 5 de maio de 2020

gestos ágeis

olhos aéreos

e o fio da meada que a enlaçava e perguntava, por quê?

ela mal sabia a pergunta, que dirá a resposta

nunca tinha parado pra sentir, pensou e viu

miragem de si espelhada em sina

vagarosa, como num filme mudo visionado por Bergman

regava um cactus

ele morre

em suas mãos a dúvida

demais?

de menos?








terça-feira, 28 de abril de 2020

ela sofre
de tempo em tempo
ela sofre
sem tempo, a demora
com tempo, a espera
e ela sofre
de tempo infinito
nela
o tempo não cura
ele dói
e mais nada
... ela
há muito tempo
parou
naquele tempo
em que amou
mas esse tempo já não
ela sofre temporal
esperando que o tempo vire
sofrega em ritual temporário
aproximando sua dor ao amor que imagina
platônica, hermética, exata
ela sofre, de tempo em sempre
pois é o tamanho do que sente
e o que daquele amor ficou
ela sofre e assim é feliz
ele nem sonha
ela só


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Observatorium 🌒
sigo vendo sua beleza, ainda que eclipsada
e talvez justamente pela obscuridade em que tentas te refugiar
meus olhos são outros
eles sentem
[falta]
🌒

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Omedobom
E a história de dois antropófagos e sua dança duelar
Ninguém ousaria imaginar as possibilidades veladas a que se propuseram
Nenhum cogitaria negar o desejo do outro, pois equivalia à pena de seu embotamento libidinal 
E não há medo no mundo que não desperte
… as sutis e provocante labaredas de efeito polar que perseguem o alvo em brasa 
Omedobom soulcega pra tatear a carne com a boca
quente
dentro
lingua
agora
mão
nós
sussura
urra
volta
rosada
a’ponta
garganta 
alcança
lança
balança
não cansa
mansa
dança
avança
flui
emana!!!
tre.pi.dam
cOmedobom
Satisfeitos
Exibem suas carnes
nuas
cruas
robustas
Regeneradas pela catarse
[Sorriem à supremacia do sentir-se]
Vivos 


domingo, 2 de fevereiro de 2020

amiudada, triste, sentindo-se vulnerável
se movia lenta, silente, deixando tudo passar
(esperando que isso também passase)
já nem sabia se era ela quem dava lugar ou se nem existia
(a invisibilidade afetiva é das dores a mais aguda)
seguia cega se guiando pelo guiso de um gozo mavioso
branda – para quem tinha como torque o medo
 de toque acetinado e pulsação lancinante, se protegia em um sorriso dócil
(sem que ninguém imaginasse o estraçalhado interior que grunhia)
ousou nudez diante do rei, almou arapuca
(precisava sentir, ainda que dor)
espada
bandeja de prata
e a
.
            .
                        .
                                    .
                                                .
                                                            .
                                                                        .
                                                                                    .
                                                                                                .
                                                                                                            .
                                                                                                                        .
                                                                                                                                   espera




quarta-feira, 29 de janeiro de 2020


O tempo é condor
Voa, revoa, sobrevoa
Rasante
… arvora
Distante
… devora
Constante
… simbora!

Senhor da liberdade,
prende em imensidão,
repreende com razão,
surpreende na exatidão. 

Chão!
para quem não. 
Não sem dor. 
Sim, senhor. 

Com. Dor.