terça-feira, 30 de maio de 2023


tinha boca pra nada

[diziam à boca pequena]

logo ele, que passou a vida engolindo sapos 


boca fechada

[não entra mosca]

ruminava entredentes

sentindo goela abaixo o pão que o diabo amassou


na boca do estômago incinerava cada desgosto, cada (m)urro suportado “para o seu bem(?)”


[silente] boca de trombone se fazia boca de lobo e mantinha guardadas coisas capazes de arrebentar a boca do inferno


tinha boca pra nada, caçoavam 

mostrando os dentes, os bocas-mole se envenenavam, um por um, com a própria saliva 

[caiu na boca do povo] 


boca pra nada ruiu Roma 

sem ruído

riu 

e entre lábios abocanhou 

[diziam no boca a boca]


boca pra nada era boca braba

não era da boca pra fora


boca aberta!






 Se me Kahlo

É porque não calo

Quand’ocalo 

Aperta


quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Em meio a tantos acasos, por acaso, um caso, alheio e certeiro à vontade, nocauteou sem esforço e o fez dela antes mesmo de ser dele. Lêem olhos em rascunhos lábios. Desenham Eros em caminhos cautos. Tudo em volta muta, se a ausência grita aos sentidos. Imaginam futuros eretos para essa história torta. Saliva pela sua na dela, generosa e alcalina frenula. Tem um quê de pele que na pausa erupciona, provoca e desafia. Aceitam e dobram - a aposta e a lombar. Na sua palma se contorce. Em seu peito se aconchega e repousam, na cadencia sonora das respirações… e os lábios os arrebatam num conto de fodas.


Existe alegria na tristeza secreta [que se equipara à tristeza da alegria sigilosa]. 




segunda-feira, 15 de novembro de 2021

 te desconheço

confio em ti, mas tu não


aceita 


sem metades

queira ser livre, só por hoje 

(tem alguém aí?)

difícil te querer em camuflagem neblina e grilhões

que esmero perturbador!

distraído com um fardo autoinfligido 

pisoteia 

a vida, que frágil resiste 

o amor, que obstinado insiste

o amanhã, que por hoje persiste


por mim, por ti, por favor: não desiste 




sexta-feira, 5 de março de 2021

Quente view

Ken TV


ɐʇɹodɯı ǝs ɯǝnΌ


ʙᴇᴍ-ᴛᴇ-ᴠɪ

ʙᴇᴍ ᴍᴇ Qᴜᴇʀ(ᴏ)




terça-feira, 9 de junho de 2020

Amável, atravessou a couraça que lhe protegia. 

No peito aturdido por incólume posseira, tinha uma dor sólida - que como Medusa às avessas, desintegrou ao ser notada.

À miragem, que outrora vestia, reservou seu passado deserto. 

E, sem pressa, ergueu o queixo e abriu os olhos. 
Foi quando avistou céu estrelado, de lua límpida e guardiã. 

Seu peito agora era Oásis que abrigava sol, brisa e amar. 


segunda-feira, 8 de junho de 2020



Um sussurro prolongado e agudo tirava a concentração daquele coração desassossegado que intentava não sofregar
Buscava a ausência da dor, mas se via preso em ausência e ardor
E nesta órbita elíptica ruminava hipóteses
excentricidade babilônica que oscilava pendular
em si?
fora de si?
tudo era nada, perto da força do caos adentro
que insuportavelmente sussurrava atônito:
vem
não
vai
não
sei...
[lá]