terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Eu não sei brincar
De amor 
Eu não sei brincar 
De esconde-esconde
Eu não sei brincar
De caçador
Eu não sei brincar
De 3 marias
Eu não sei brincar 
De casinha
Eu não sei brincar
De papai-mamãe
Eu não sei brincar 
De amarelinha
Eu não sei brincar 
De cirandinha
Eu não sei brincar

Desaprendi

Depois que virei mocinha
E o lúdico me abandonou
Eu passei a ver a vida em outras dores
E com isso não se brinca 




quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Existem ausências tão sanitárias que deveriam ser prescritas
Remédio amargo, de textura áspera e pegajosa, tem cor cinzenta e temperatura polar
Por vezes em doses fracionadas, em outras... único ato de coragem e amor, o próprio
que engole de uma vez só, com a saudade do futuro que nunca existiu, e arrota um silêncio moco, zonzo de onde veio. sem ter para onde ir, perambula pelo só-tão... e cai. ajoelhado, vendo solta a ponte entre o a-mar e o sem-ti, sem elo, nem ela, ele urra a-Deus. cara no chão, barro na mão, feito de terra e lágrimas, amassa com as mãos em punho, até sentir outra dor que não a do já-mais. Deita, velando êxule. Morre para viver.
O amor é uma droga

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Sobre suas costas sentia todo o peso dele, mal conseguia encher por completo os pulmões… comprimida… cotovelos dobrados, em tentativa de erguer o tronco e forçá-lo, cada vez mais rente ao seu dorso e ombros, totalmente tomada
Ativa e propositalmente imobilizada, aquieta a mente e sente as batidas, coração no peito e nas costas
Em disritmia orquestrada pelo ofegante calor doce que sentem entre o ouvido e o desencontro das bocas… 
Reacomodam cada membro, numa harmonia não ensaiada
Encaixam-se diacronicamente, facilitados pelos fluidos originados pelo que mais parece um combate
Braços, enlaços
Pelos, peles
Espada, embanhada
Arcos, costas
Dedo, olho
Unha, mão
Boca, boca
Dentes, orelha
Perna, arrasta, afasta
Quadril, alavanca
Revira, volta
Encara, provoca, debocha
Romeu e Julieta em versão Khal Drogo e Khaleesi
Nesta arena tudo pode
Apenas uma regra: vence o amor



quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Romance bíblico

Ele a olhava em Gênese
Ela o queria em Apocalipse

Ele protegia a maçã
Ela hipnotizava serpentes 

Ele ornamentado em parreiras
Ela queria bananeiras 

Ele declamava versículos
Ela entendia testículos 

Ele Velho Testamento
Ela arrebatamento 

Ele Tábuas da Lei
Ela sarça ardente

Ele no vale da sombra da morte
Ela mio à sua direita 

Ele Jejum
Ela Ceia

Ele nem tenta
Ela tentação

Ele promessa
Ela ressureição 

Ele discípulo 
Ela santo sudário 

Ele Jardim do Éden
Ela Sodoma e Gomorra

Ele Lázaro
Ela terceiro dia 

Ele medo da pedra
Ela Madalena que ria
em tridente, boca, língua, dedo, que toca e sente na virada da página a textura do Sinal
do Fim dos Tempos: bro
    roc
    och
    chu
     hur
     ura
     ra
     a   
      .
       .
        .
E ela (que esperava capa dura)…
Luciferou:
Pai! Perdoa! quem não sabe o que jaz!

iMundo de Blahs fêmeas! 
Not her, not ever

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018


|Último ato| 

Olha firme e consistente para aquele ser à sua frente e diz: tu sabe...já me declarei tantas vezes que, sei lá, mas.. fazer o que? gosto tão imensa e quase insanamente de ti 
[respira fundo, serena]

Gosto da tua companhia, do teu efeito sobre mim, de como somos (im)perfeitos juntos, das tuas tantas variantes, do “caos” que trazes contigo, de olhar no teu olho e me reconhecer, de te sentir ouriçar minha nuca, de te ver acreditando e duvidando do que prometemos sem sequer declarar…
[mexe suave e controladamente um ombro de cada vez, em quase desapercebidos movimentos gangorra, alinhando o desejo, como que num sutil ensaio de vontades, e segue] 

Gosto da falta orgânica que meu corpo sente do teu
[pensa no cheiro, no gosto, no toque, na força… e então, involuntária, comprime as coxas ondulando o quadril que retesa… e falhamente impávida, segue]

Gosto de como tu desliza me atravessando a carne, os sentidos e o coração
[ofegante, peito cadenciado em curtas respirações quentes, inalando memórias e exalando vontades, que pensa controlar… mas se mantém, firme no propósito diz]

Gosto do sorriso espontâneo no ápice da conjunção quando contrai e explode em ondas espasmódicas secretando o mais poderoso e letal dos antídotos… e quando meu coração pulsa em versão alada ativada pelo teu vigor refletido no espelho da nossa miragem
[agora o corpo estremece desde o ventre… calor por todos os poros, e a pele já não mais contém. Mas ela baixa os olhos e volta com o semblante remodelado. E segue…] 

Gosto da anacro-sincronicidade dos diálogos e elocubrações que desenvolvemos tão livres, naturais, que fluem em sintonia de uma lógica nonsense que nos é peculiar, e que pueril me faz querer ser aquela à quem tu daria “sopa”
[sorri com o canto do olho e da boca, num carinho nu, e uma alegria que abraça. E segue…]

Gosto de acreditar (que é amor), de pensar futuros mirabolantes e ainda assim tão possíveis…
[sente a garganta apertada na imensidão do que guarda em si] 

Era sobre isso que queria poder falar contigo, saber se continuo sonhando...
[oscilando entre resignar e renegar sua natureza avassaladora ela diz, parecendo forte] 

Então fico imaginando se você volta… se “a gente” existe em alguma realidade, ou se estou (amando) sozinha.
[baixa a cabeça, maneia para a esquerda, como que contrariada a encarar o sol do meio dia, disfarça a dor, e diz… com o peito já em sangria]

Nesse caso, vai doer, apocalipticamente, mas enfrentarei a imensidão dessa queda livre.
[agora é mais que uma, é todas… todas as vezes que acreditou no amor. E derrama sua voz num ato etílico violinizado dizendo em um esparançoso Dó maior]

Mas, se “a gente” ainda existe, seremos arrebatados para o mundo mágico que só existe quando eu e tu estamos conectamos.
[pausa, o drama tudo turva, numa luz que desatina. Os dois gargalham, quando ela os revela… indagando] 

E agora, Batman, me diz… estou em perigo? Qual das pílulas devo tomar? 

Duas peças em um desato-ato-desatino.

|Fim de cena|

Seus olhos cortejam a insanidade.
O público ensurdece pelo silêncio oco.


Mal sabem que a tragédia se deu nos bastidores: ESTÓICA.