quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

No dia em que ele perdeu todas, ela olhava para seus olhos doces e culpados, como quem perdoa por se machucar
Naquela hora sofreu como quem arrancasse suas artérias à sangue frio e lâmina quente
À passos firmes, ela foi 
E sem perceber, como ímã, indefesa
Rumou ao mais profundo dos oceanos 

Enquanto ele a olhava à uma distância morna que trincaria até mesmo o aço 
Naquele segundo do não-ato
[ela se deixou submergir, e] 

Ele perdeu todas que a compunham
Braços largados, frouxos, ao lado do corpo
Ele abriu mão ao não abrir o coração
Ao (não) emitir o não ele a morreu e sacrificou 
a amante, a amada,
a amiga, a louca,
a apaixonada, a encantada,
a divertida, a parceira,
a criatura, a criativa,
a empolgada, a interessante,
a interessada, a instigante,
a descolada, a excitante,
a intrigada, a pensante...
Arrasada.

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
[berravam suas almas agarradas em agonizante desespero]

Enquanto vertiam ácido dos olhos para dentro, os sentidos catabolizavam em ópio, e as bocas em arco convexo num adeus justiceiro que atravessou todas as memórias passadas num futuro de incertezas idealizadas

Catatônitos como quem encara medusa em dia de bacanal