quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

No dia em que ele perdeu todas, ela olhava para seus olhos doces e culpados, como quem perdoa por se machucar
Naquela hora sofreu como quem arrancasse suas artérias à sangue frio e lâmina quente
À passos firmes, ela foi 
E sem perceber, como ímã, indefesa
Rumou ao mais profundo dos oceanos 

Enquanto ele a olhava à uma distância morna que trincaria até mesmo o aço 
Naquele segundo do não-ato
[ela se deixou submergir, e] 

Ele perdeu todas que a compunham
Braços largados, frouxos, ao lado do corpo
Ele abriu mão ao não abrir o coração
Ao (não) emitir o não ele a morreu e sacrificou 
a amante, a amada,
a amiga, a louca,
a apaixonada, a encantada,
a divertida, a parceira,
a criatura, a criativa,
a empolgada, a interessante,
a interessada, a instigante,
a descolada, a excitante,
a intrigada, a pensante...
Arrasada.

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
[berravam suas almas agarradas em agonizante desespero]

Enquanto vertiam ácido dos olhos para dentro, os sentidos catabolizavam em ópio, e as bocas em arco convexo num adeus justiceiro que atravessou todas as memórias passadas num futuro de incertezas idealizadas

Catatônitos como quem encara medusa em dia de bacanal



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Eu não sei brincar
De amor 
Eu não sei brincar 
De esconde-esconde
Eu não sei brincar
De caçador
Eu não sei brincar
De 3 marias
Eu não sei brincar 
De casinha
Eu não sei brincar
De papai-mamãe
Eu não sei brincar 
De amarelinha
Eu não sei brincar 
De cirandinha
Eu não sei brincar

Desaprendi

Depois que virei mocinha
E o lúdico me abandonou
Eu passei a ver a vida em outras dores
E com isso não se brinca 




quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Existem ausências tão sanitárias que deveriam ser prescritas
Remédio amargo, de textura áspera e pegajosa, tem cor cinzenta e temperatura polar
Por vezes em doses fracionadas, em outras... único ato de coragem e amor, o próprio
que engole de uma vez só, com a saudade do futuro que nunca existiu, e arrota um silêncio moco, zonzo de onde veio. sem ter para onde ir, perambula pelo só-tão... e cai. ajoelhado, vendo solta a ponte entre o a-mar e o sem-ti, sem elo, nem ela, ele urra a-Deus. cara no chão, barro na mão, feito de terra e lágrimas, amassa com as mãos em punho, até sentir outra dor que não a do já-mais. Deita, velando êxule. Morre para viver.
O amor é uma droga

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Sobre suas costas sentia todo o peso dele, mal conseguia encher por completo os pulmões… comprimida… cotovelos dobrados, em tentativa de erguer o tronco e forçá-lo, cada vez mais rente ao seu dorso e ombros, totalmente tomada
Ativa e propositalmente imobilizada, aquieta a mente e sente as batidas, coração no peito e nas costas
Em disritmia orquestrada pelo ofegante calor doce que sentem entre o ouvido e o desencontro das bocas… 
Reacomodam cada membro, numa harmonia não ensaiada
Encaixam-se diacronicamente, facilitados pelos fluidos originados pelo que mais parece um combate
Braços, enlaços
Pelos, peles
Espada, embanhada
Arcos, costas
Dedo, olho
Unha, mão
Boca, boca
Dentes, orelha
Perna, arrasta, afasta
Quadril, alavanca
Revira, volta
Encara, provoca, debocha
Romeu e Julieta em versão Khal Drogo e Khaleesi
Nesta arena tudo pode
Apenas uma regra: vence o amor