O que a gente faz com esse
amontoado de nada que lota a nossa memória e esvazia nossa história
O que a gente faz com todo esse
cansaço que nos trouxe até aqui e agora nos apresenta um beco sem saída
O que a gente faz com o tempo
perdido que se bem aplicado poderia tirar esse gosto de mofo na nossa boca
O que a gente faz com a dor da
vida desperdiçada em sonhos abandonados
O que a gente faz com a marca
funda na nossa cara por tantas obtusas defesas contra os maus-agouros
O que a gente faz com a
fantasia da felicidade plena se ela não vem
O que a gente faz com toda
ingenuidade introjetada em um mundo de realidades vis
O que a gente faz com essa
música que barulha nossa mente mostrando que não há como acionar a paz quando ela lhe foi roubada
O que a gente faz com a gente? Perguntam
olhos em lágrimas, lábios em arco, coração a solavancos e peito em soluços
pungentes, mão quase sem cor de tanta pressão para sentir nada, por sentir
tanto. Dentes trincando em desordem, cabelo que escorre na testa e se mistura
com o choro que já desceu pela face e agora amarga a boca. O peito afunda, as
costas arqueiam, as mãos encontram o rosto e tudo quase alcança os joelhos. Sincronia
e desordem. Por fora catarse. Por dentro ferida.
Estamos todos na mesma. Vida.