Anoiteceu com a certeza de que não há justiça, não há divino, não há quem invocar além de si. Adormeceu com um choro suave que assentava no peito a ultima constatação. Não sabia se comemorava ou sofria um pouco mais, enquanto ainda podia tentar-se crente, mas não conseguiu. Se a ignorância é uma benção, a sabedoria é libertadora. A primeira acalenta, a segunda fortalece. Herege espinha insurgia blasfema e impávida. Não dizia, era! Não pedia, era! Não seguia, era! Não era, é! Ninguém contesta a certeza, sequer questiona o infalível, não há margem para quem sabes. Quando nada mais te prende, o que pode te segurar?
Acabaste de pensar nisso?! Que drama desnecessário! Porque paraste e pensaste? Talvez por precisar limpar o vidro sujo dessa lente limitante. É justo, tem meu respeito.
Ah, não foi isso?! Por favor, apenas poupe-me de diálogos inócuos e insípidos dos contestastes papagaios de piratas. Nem tente. E se tentar, agüente.
Uma certeza eu tenho, nada é certo, tudo é válido, e nada vem do nada - literalmente! Mas eu não, nem tu. E a incoerência pode também ser uma benção, sem fiéis seguidores. Aliás, quando que fiéis cegadores fizeram bem?